Recentemente, tive a honra de participar como debatedora no Gastrominas, o evento mineiro mais importante sobre Gastroenterologia, Endoscopia Digestiva e Coloproctologia.
Lá, discutimos bastante sobre as Doenças Inflamatórias Intestinais (DIIs), incluindo a Doença de Crohn e a Retocolite Ulcerativa.
Entre especialistas, é normal que usemos termos mais técnicos e que possam ser de difícil compreensão para quem não é da área.
Por isso, vim aqui falar mais um pouquinho sobre o tema mas, agora, de um jeito diferente, de uma forma bem fácil para todo mundo entender.
O que são Doenças Inflamatórias Intestinais (DII)?
Para começar, imagine o sistema digestivo como um longo tubo com o importante trabalho de processar tudo que comemos.
Em algumas pessoas, como aquelas com DII, parte desse sistema fica inflamada, causando dor e outros problemas sérios.
A Doença de Crohn é um deles. Essa condição pode afetar qualquer parte do sistema digestório, mas frequentemente ataca o final do intestino delgado.
Ela pode causar dores intensas, diarreia recorrente e uma sensação geral de cansaço que impacta muito o dia a dia.
Outro problema é a Retocolite Ulcerativa, que agride mais o intestino grosso e reto. Seus principais sintomas incluem idas frequentes ao banheiro e presença de sangue nas fezes, algo que pode ser bastante preocupante.
Diagnóstico e tratamento das DIIs
Diagnosticar uma DII não é uma tarefa fácil, já que os sintomas são comuns a muitos outros problemas de saúde.
Vamos imaginar com um exemplo de caso?
Maria, uma mulher de 30 anos, começou a sentir dores abdominais frequentes e diarreia. Inicialmente, ela achou que poderia ser algo que comeu ou um simples mal-estar.
Mas com o passar das semanas, os sintomas não melhoraram; pelo contrário, apareceram outros como sangramento retal e perda de peso. Preocupada, ela fez o certo: procurou um médico.
Em um caso assim, quando o paciente chega ao consultório, precisamos primeiro descartar outras causas para os sintomas, como infecções, intolerâncias alimentares ou até mesmo condições mais graves como câncer.
Para isso, temos uma detalhada conversa com a pessoa. Trazendo para o nosso exemplo, eu faria uma série de perguntas sobre a saúde da Maria e o histórico familiar dela.
Se algum parente já teve DII, isso aumenta as chances de ela também ter.
Além da conversa, eu também solicitaria alguns exames para a nossa paciente:
- Exames de Sangue e Fezes: Para verificar sinais de inflamação, como a calprotectina fecal, e descartar infecções.
- Colonoscopia: Um tubo fino com uma câmera que é inserido através do reto para olhar diretamente por dentro de todo o intestino grosso. Durante o exame, podemos coletar pequenas amostras de tecido (biópsias), que ajudam a confirmar a presença de inflamação característica das DII.
- Imagens: Exames como o entero-tomografia e tomografia podem ser necessários para checar partes do intestino que a colonoscopia não alcança.
O que será? O desafio do diagnóstico
Analisando os resultados, podemos fazer o diagnóstico de acordo com os seguintes pontos:
- Se for Doença de Crohn:
A inflamação pode ser em qualquer parte do trato gastrointestinal, desde a boca até o ânus, não apenas no cólon.
Ela pode ser profunda, afetando várias camadas da parede do intestino, não só a superficial.
Podem haver também outras complicações como fissuras, fístulas (pequenos canais anormais que se formam entre o intestino e outras áreas), e abscessos.
- Se for Colite Ulcerativa:
A inflamação fica limitada ao cólon e ao reto e é mais superficial, atingindo apenas as camadas mais externas da parede do cólon e reto.
Ela se espalha de maneira contínua e uniforme (sem áreas saudáveis entre as inflamadas), e não costuma haver fístulas ou abscessos.
Além disso, a inflamação não afeta outras partes do trato gastrointestinal.
Ou seja, se a inflamação estiver por toda parte do trato gastrointestinal, afetando profundamente as camadas do intestino e com áreas saudáveis entre as partes inflamadas, o problema da Maria pode ser Doença de Crohn.
Mas se os resultados mostrarem que a inflamação está só no cólon e reto, afetando de forma superficial e contínua, então provavelmente é Colite Ulcerativa.
Viu só como muitas vezes o diagnóstico está em detalhes que podem ser muito similares?
E agora? Os desafios do tratamento
Quando falamos em tratar a Doença de Crohn, precisamos pensar em uma combinação de abordagens.
Primeiro, temos os medicamentos que ajudam a controlar a inflamação. Estes incluem corticoides, que são ótimos para dar um alívio rápido quando a inflamação está intensa.
Também temos os imunossupressores, que ajudam a regular o sistema imunológico para não atacar o próprio corpo, e os medicamentos biológicos, que são bem específicos e bloqueiam as substâncias envolvidas na inflamação.
Além dos medicamentos, a alimentação também é super importante. Às vezes, ajustar o que se come pode ajudar a reduzir os sintomas.
Em casos mais graves, pode ser preciso usar nutrição especial, até mesmo por tubos, para garantir que o corpo receba tudo o que precisa sem irritar o intestino.
E, em alguns casos, quando a situação está realmente complicada e não responde bem aos medicamentos, pode ser necessário realizar uma cirurgia para remover as partes mais afetadas do intestino.
Já na Colite Ulcerativa, o tratamento é um pouco diferente, embora também use medicamentos para controlar a inflamação.
Aqui, os aminossalicilatos são frequentemente usados, especialmente em casos mais leves. combatendo a inflamação.
Os corticoides também são comuns, oferecendo alívio rápido durante crises. Para casos mais severos, os imunomoduladores e biológicos ajustam o sistema imunológico para controlar a doença de forma mais eficaz.
A dieta também conta bastante. Manter uma alimentação equilibrada e saber quais alimentos evitam as crises é crucial.
Em momentos de crise, por exemplo, alguns alimentos podem precisar ser evitados para não piorar os sintomas.
Falando de desafios, manter ambas as condições sob controle pode ser difícil porque as crises podem voltar.
Questões emocionais e sociais também entram em jogo, especialmente quando a pessoa precisa ir muitas vezes ao banheiro.
Além disso, um risco a longo prazo é o desenvolvimento de câncer de cólon, então é importante manter um monitoramento regular com o médico.
No fundo, tanto para a Doença de Crohn quanto para a Colite Ulcerativa, o importante é trabalhar em conjunto com o médico para encontrar o melhor plano de tratamento, ajustando conforme necessário para manter a qualidade de vida.
É um processo de monitoramento contínuo e ajuste dos tratamentos para achar o que realmente funciona para cada pessoa.
Deu pra entender certinho?
Como médica, meu objetivo também é simplificar o que parece ser complicado demais.
Se você tiver dúvidas ou preocupações sobre DII, por favor, fale comigo ou com um especialista de confiança.
Juntos, podemos encontrar o melhor caminho para lidar com essas condições desafiadoras.