Situações de desequilíbrio da microbiota intestinal, conhecidas por disbiose, podem favorecer o surgimento do câncer.

Isso ocorre por diversos motivos: por induzir inflamação, promover o crescimento e proliferação celular, enfraquecer o sistema imune e por alterar funções bioquímicas do indivíduo.

Estudos já mostraram que uma microbiota saudável (em equilíbrio) favorece o sucesso das mais diversas estratégias terapêuticas, incluindo os tratamentos para o câncer.

As bactérias que compõem a microbiota se comunicam o tempo inteiro com o sistema imunológico. E assim pode fazer com que funcione melhor.

Antibióticos

Uma das causas da disbiose está no uso recorrente de antibióticos. Em um estudo recente, pesquisadores da Sociedade Americana para Pesquisa de Ossos e Minerais descobriram  que tomar antibióticos de amplo espectro pode acelerar o crescimento do melanoma – uma forma grave de câncer de pele que pode se espalhar para outros órgãos.

Isso ocorre porque antibióticos prejudicam o equilíbrio do microbioma intestinal e consequentemente o sistema imunológico.

E não é só com o melanoma que isso ocorre. Diversas pesquisas já mostraram que níveis mais elevados de exposição a antibióticos estão associados a um risco aumentado de câncer colorretal.  

Pesquisas

O câncer colorretal é o segundo mais frequente no Brasil depois dos cânceres de próstata e de mama. De acordo com estimativas do Instituto Nacional do Câncer (INCA) serão 40.990 novos casos por ano para o triênio 2020/2022, sendo 20.520 em homens e 20.470 em mulheres. 

Diversas pesquisas avaliam fatores de risco para esse tipo de câncer e um estudo de revisão publicado no BMJ Journals mostrou que existem evidências de que os antibióticos induzam uma mudança na composição do microbioma intestinal e criem um estado pró-inflamatório que promove a formação de células cancerosas.

A pesquisa  mostrou que os indivíduos com o nível mais alto de exposição a antibióticos eram 10% mais propensos a desenvolver câncer colorretal em comparação com aqueles com exposição mais baixa.  

Mostrou ainda que o uso de antibióticos, especialmente no início da vida, leva à perda de biodiversidade no microbioma intestinal e a distúrbios metabólicos de longa duração. Os antibióticos também criam um microambiente que favorece a formação de tumores.

Essas descobertas aumentam o sentimento de que, na prática clínica, devemos sempre ser criteriosos no uso de antibióticos e usar os antibióticos mais direcionados que são apropriados para essa situação clínica pelo menor período de tempo. O fato de ser o uso prolongado de antibióticos que é preocupante precisa ser lembrado (esses medicamentos ainda são nossa melhor aposta contra bactérias patogênicas).

E o mais importante: reforçam a importância de ter um intestino saudável para fortalecimento da saúde.