Sempre comento com vocês sobre a importância de uma dieta rica em fibras. Além de nos darem uma sensação de saciedade, as fibras são essenciais para o bom funcionamento intestinal. Elas mantêm a microbiota equilibrada, absorvem resíduos e ajudam a formar o bolo fecal, facilitando o trânsito intestinal.

Além disso, comer fibra diariamente ajuda a diminuir o risco de algumas doenças. Problemas como níveis desregulados de colesterol e insulina, além do mau funcionamento do sistema imunológico, podem ser relacionados à disbiose intestinal (desequilíbrio da microbiota).

Agora, descobertas científicas recentes indicam que a habilidade humana de digerir fibras (especialmente entre moradores de áreas urbanas) tem diminuído ao longo das gerações, trazendo preocupações significativas para a saúde global.

Bactérias intestinais

A pesquisa “Diversidade críptica de bactérias degradadoras de celulose no intestino de humanos industrializados” foi realizada por cientistas israelenses e publicada na revista Science. Eles investigaram a presença e a atividade de bactérias degradadoras de celulose no intestino humano.

O estudo revelou a existência de espécies previamente desconhecidas de bactérias do tipo Ruminococcus sp. no intestino humano. Estas bactérias são capazes de degradar polissacarídeos complexos, como a celulose, que é um componente primário das paredes celulares das plantas.

Os resultados indicam que essas espécies bacterianas são altamente prevalentes em primatas, grandes primatas, populações humanas antigas, comunidades de caçadores-coletores e em populações rurais, mas são raras em populações humanas urbanizadas. Isso sugere uma correlação entre o estilo de vida e a dieta moderna e a diminuição da capacidade de digerir fibras.

Microbiota saudável

A pesquisa também aponta que, embora a capacidade de fermentação de celulose no intestino humano seja limitada, ela existe e é influenciada pela diversidade bacteriana que, por sua vez, é afetada pelo tipo de dieta. Em contraste com as dietas ricas em fibras de nossos ancestrais, a dieta moderna, frequentemente pobre em fibras, pode estar contribuindo para uma redução na prevalência dessas bactérias.

Não se pode ter como certa uma piora da tolerância a alimentos vegetais. Entretanto, o estudo suscita questões importantes a serem averiguadas em novas pesquisas.

O estudo sugere que a reintrodução de alimentos ricos em fibras e o uso de probióticos podem ajudar a aumentar a frequência de bactérias que degradam celulose no intestino, potencialmente melhorando nossa capacidade de digerir fibras. Isso abre um novo caminho para abordagens dietéticas e terapêuticas que visam restaurar e manter uma microbiota intestinal saudável e funcional.

Assim, ainda que a capacidade de digerir fibras possa ter diminuído em populações urbanizadas, as descobertas indicam que ainda há esperança de recuperar e otimizar essa função.

Até que novos estudos sejam feitos, sigo firme no propósito de motivá-los a ter uma alimentação mais saudável. Como costumo dizer: mais sacolão e menos padaria.