A endometriose é uma doença complexa e muitas vezes debilitante, caracterizada pelo crescimento de tecido semelhante ao do endométrio fora do útero.
Afeta aproximadamente 176 milhões de mulheres em todo o mundo. Causa dor crônica e diversos outros sintomas que podem afetar profundamente a vida de uma mulher.
Em minha experiência clínica percebo que é preciso olhar para além dos sintomas físicos, pois a jornada emocional da mulher com endometriose é muito desafiadora e merece atenção.
Estudos apontam que 57% das pacientes com endometriose convivem com dores crônicas que interferem nas relações sociais, profissionais, na vida sexual, na fertilidade, entre outros aspectos. Tudo isso pode despertar gatilhos emocionais, interferindo na saúde mental das mulheres com endometriose.
Sentimentos
A pesquisa “ A saúde mental das mulheres com endometriose” (Revista Ibero-Americana de Humanidades, Ciências e Educação) investigou o impacto emocional dessa doença nas mulheres que desejam engravidar, assim como suas vivências.
A pergunta feita às participantes do estudo foi: “Qual sentimento mais prevalente quando recebeu o diagnóstico?”, sendo que as respostas prevalentes foram: tristeza (59,1%), medo (77,3%) e desespero (50%).
Antes do diagnóstico
Os desafios emocionais costumam começar bem antes do diagnóstico. Esse pode ser um processo longo e frustrante, pois o diagnóstico leva, em média, de oito a dez anos para ser estabelecido. Isso resulta em uma “normalização” da dor menstrual e do menosprezo da dor feminina. Durante esse tempo, as mulheres podem sofrer com sintomas incapacitantes sem entender a causa, o que levar ao isolamento, frustração e desesperança.
Sintomas
Os sintomas mais comuns da endometriose são: cólicas intensas, dor durante relações sexuais, sangramento intestinal ou urinário durante a menstruação e infertilidade. O problema é que esses sintomas são frequentemente mal interpretados por profissionais de saúde e pela sociedade em geral, o que pode afetar a autoestima e a saúde mental das mulheres.
Incertezas
Depois de um longo processo para se chegar ao diagnóstico correto, vem a incerteza sobre a fertilidade e os desafios próprios do tratamento. Estresse e ansiedade podem piorar o processo inflamatório do organismo.
Para as mulheres que têm a maternidade como plano, essa realidade pode ser ainda mais desafiadora. A incerteza quanto aos resultados do tratamento pode desencadear emoções diversas e patologias mais graves, como a depressão e crises de ansiedade.
Conscientização
Assim, é muito importante que as mulheres com endometriose recebam suporte emocional adequado, tanto por parte de profissionais de saúde, quanto da família e pessoas próximas. Reconhecer e abordar os aspectos emocionais dessa condição é fundamental para o bem-estar e a recuperação das mulheres que vivem com endometriose.
Um aspecto positivo é que a conscientização sobre a endometriose tem crescido, e com ela, a esperança de um diagnóstico mais rápido e tratamentos mais eficazes.
Além disso, os estudos e pesquisas continuam avançando, para se alcançar melhores maneiras de tratar a endometriose.